02/07/2021 – POR CLAUDIA ASSEF
E aí, craudi, tudo bem?
Espero que sim, apesar do Brasil, né?
Estou escrevendo este texto pra contar pra vocês um pouco sobre o que está rolando no Centro Cultural Olido, onde desde 2019 eu atuo como coordenadora.
Quando cheguei lá, começamos a fazer uma guinada curatorial rumo ao que já acontecia no entorno: um cultura pulsante, transitando entre hip hop, afrofuturismo, reggae, rock, grafite, pixo. A rua Dom José de Barros, onde temos uma das entradas para a Olido, ficou conhecida nos anos 80 como “marco zero do hip hop”. Isso sem falar que na av. São João, onde fica a entrada principal do Centro Cultural, está a Galeria do Rock, que todo mundo conhece e com certeza já foi um dia.
O convite para trabalhar à frente da Olido veio do secretário de Cultura, Alê Youssef, que eu conheço desde os tempos em que ele liderava a Coordenadoria da Juventude, na gestão da Marta Suplicy. Juntos fizemos muitas coisas legais na época, o Lov.e por São Paulo foi uma delas. Aos domingos, o projeto levava DJs do Lov.e Club realizando palestras (eu mediava todas), aulas e sets para as periferias de São Paulo. Fizemos também, junto com um time de gente legal da cena eletrônica da época, a associação Amigos da Música Eletrônica, que realizou campanhas de redução de danos, valorizava a figura do DJ, articulava politicamente a diminuição de impostos sobre discos de vinil e fez uma das paradas mais legais que São Paulo já teve, a Parada AME SP, em 2003. Na associação, eu era Diretora de Comunicação, e o Alê um dos principais articuladores.
Mas voltemos ao Centro Cultura Olido. Desde maio de 2019 temos feito uma ocupação do espaço, trazendo festas, bailes, danças urbanas, hip hop, funk, techno, trance, VJing e tudo o que diz respeito à cultura da noite, com showcases de coletivos como a Caps e tantos outros que a gente adora! Aliás, uma das festas que teria acontecido em 15 de março, mas teve que ser cancelada por conta da chegada da pandemia, cujo marco inicial foi dia 13 de março de 2020 em São Paulo, era justamente uma Capslock que iria acontecer na Vitrine da Dança. Lá atrás, a gente achava que daria pra remarcar dali a alguns meses… Até hoje não voltamos com eventos presenciais. Mas temos feito ao longo desses 16 meses muitas lives, apoiando artistas dos mais diversos coletivos. Não é a mesma coisa que estar numa pista com os amigos, mas é o que tem pra hoje e é também uma importante forma de apoiar a cena de festas, que foi certamente a primeira a ter que parar e vai ser a última a voltar com força total. Mas tenho fé que vamos voltar, do jeito certo, vacinades e com muita vontade de dançar!
Ao longo desses meses temos feito melhorias no espaço também. Neste momento estamos no meio de uma grande reforma estrutural, que está renovando a Vitrine da Dança e todos os espaços do andar térreo, além de renovar os aparelhos de ar condicionado dos teatros (salas Olido e Paissandu) e do Cine Olido, que passará a se chamar Cine Paulo Gustavo (que eu achei uma homenagem linda).
Além das obras, estamos com um novo e importantíssimo espaço pronto e esse lugar vocês vão querer conhecer com certeza. Trata-se da Galeria do DJ Sonia Abreu. Pela primeira vez na América Latina um equipamento público reserva um espaço permanente voltado ao universo dos DJs. O nome da Galeria presta uma homenagem à Sonia Abreu, pioneira DJ brasileira (1951-2019), que se foi muito cedo.
A Galeria do DJ Sonia Abreu irá receber exposições temporárias e eventos. Para a inauguração, criamos a muitas mãos (com a participação importantíssima dos próprios DJs), a mostra 60 anos de Discotecagem em São Paulo, com curadoria feita por mim de forma colaborativa com profissionais que ajudaram a escrever essa história na cidade.
O projeto artístico foi criado pelo cenógrafo Zé Carratu, conhecido por seus trabalhos com arte urbana desde o final dos anos 80. Nesse espaço, pensado com o intuito de valorizar e celebrar o trabalho de mulheres e homens que se dedicaram e se dedicam ao ofício de disc-jóquei, estará exposto permanentemente um rico acervo que ajuda a montar o quebra-cabeças do legado, da história e da importância de uma profissão que, apesar de celebrada, ainda encontra percalços como o fato de, oficialmente, nem ser considerada uma ocupação que faça jus a um registro em carteira de trabalho.
Mas é preciso celebrar e reconhecer o valor do DJ, personagem fundamental da música que agora ganha reconhecimento neste espaço dedicado à memória e à cultura dos
bailes, festas e da discotecagem brasileira.
Nesta exposição, organizada de forma cronológica por décadas, estão reunidos mais de 1.000 itens, entre fotos históricas, flyers de época, equipamentos que ajudam a contar a linha do tempo da evolução do áudio no Brasil, figurinos, discos em vinil e instalações audiovisuais. Aliás, vale um spoiler aqui. A trilha sonora da instalação audiovisual que está na mostra foi criada pelo Estúdio Curva, com trilha sonora do Craudiano dos craudianos, Paulo Tessuto.
Na exposição se encontra uma linha do tempo da evolução da profissão, desde quando seu Osvaldo Pereira, nosso pioneiro DJ brasileiro, fez seus primeiros bailes em São Paulo em 1958, até os grandes acontecimentos da atualidade.
Fizemos uma inauguração com tour virtual em final de abril, e o vídeo desse evento você pode assistir aqui. Porém, por conta da pandemia, fez-se necessário realizar uma série de ajustes antes de abrirmos oficialmente para a visitação de geral. Afinal, um espaço como esse seria fatalmente um local de aglomeração. Enquanto testamos formatos para a abertura, começamos a realizar visitas guiadas, com público restrito. A próxima acontece nesta sexta (25) e terá como ilustre guia convidado o DJ Andy, um dos maiores nomes do drum’n’bass nacional. Para conseguir uma vaga, é preciso ficar esperto no Instagram da @galeriadodj, pois é lá que iremos divulgar as próximas datas e também dar orientações sobre a abertura oficial ao público. Siga a Galeria do DJ e se joga (com todos os cuidados) na nossa próxima visitação guiada. Depois me conta o que achou.