Um prefácio de músicas que mudaram minha vida
Alan Medeiros. 08 de Junho de 2021. Curitiba/PR.
Quando eu cheguei em Santa Catarina com 12 anos, eu ainda não tinha grandes paixões e preferências na vida além do esporte, que sempre me acompanhou. Claro que a idade era um fator decisivo nessa questão, mas depois de oito anos morando no extremo oeste do estado, mesmo que quase criança, você vai entendendo que o ritmo da vida é mais lento e por vezes com as chamadas tendências, atrasadas.
Pra mim foi um choque muito grande a forma como meus novos colegas de classe conversavam, se vestiam e, principalmente, quais músicas ouviam. Eu saí de um lugar onde a música regional dominava, junto ao pop nacional raso. Minha nova turma em Itapema era vidrada em Hip Hop e… música eletrônica. Sair de São Miguel do Oeste para Itapema foi uma obra do acaso depois da separação dos meus pais, mas sem dúvidas essa foi a decisão que mais impactou minha vida.
Na adolescência, meus amigos ouviam essencialmente Psy. Eu nunca me conectei ao estilo e por isso a música eletrônica demorou muito pra fazer parte da minha vida de forma contundente. Quando o querido amigo Tessuto me convidou para escrever essa coluna por aqui, eu tive algumas dificuldades em encontrar o tema ideal, dada a quantidade de conteúdo e colunas que já iniciei lá no Alataj. Então decidi falar um pouco sobre o processo de descobrimento de músicas que mudaram a minha vida e para chegar lá, não tem como passar por essa contextualização que se iniciou nos parágrafos acima e termina nos seguintes.
Eu fui ter internet em casa somente em meados de 2010. Sem essa conexão, eu não tinha como me aprofundar na música eletrônica para além do que meu grupo mais próximo escutava – e eu não curtia. Quando passei a ter acesso diário, comecei a entender o tamanho gigantesco que esse universo possuía e não muito tempo depois, em 2012, o Alataj nasceu como uma festa, essencialmente de música eletrônica.
A questão regional aqui foi implacavelmente importante. Confesso que se a Dance Music não fosse tão culturalmente enraizada dentro da formação dos meus amigos e da região em si, claro, talvez eu não teria dado algumas novas chances, para finalmente encontrar o que eu realmente me conectava. Mas mesmo com os primeiros passos do Alataj, ainda faltava alguma coisa. Nos dois primeiros anos do site, música eletrônica não era o que eu mais escutava nos momentos de lazer e, influenciado pela faculdade, não era o tipo de rolê que eu mais estava.
Foi em 2014, quando comecei a frequentar regularmente o Warung, que novas e novas portas foram se escancarando pra mim. Desde sempre, aquele tipo de som que flutua entre o House e o Techno e é difícil de descrever, me cativou. Antes de me aprofundar mais no House, minha principal paixão, eu escutei muita coisa, posso dizer que dei chance a tudo pra ver se eu realmente me interessava e com cada nova experiência de pista que eu estava vivenciando, compreendi duas coisas: 1) Música eletrônica se vive por completo em um só lugar, na pista de dança. 2) Isso aqui certamente vai fazer parte da minha vida para sempre.
Nesses primeiros meses de pista, eu já tinha uma lista de músicas que realmente me tocavam, mas uma era especial. Em Julho de 2014, fase final da Copa do Mundo no Brasil, Stimming foi convocado para substituir Solomun em um lineup de inverno do Warung. Eu já tinha assistido e gostado muito do live do alemão alguns meses antes, no Diynamic Festival da Páscoa. Mas a forma como ele conduziu aquela performance específica nunca mais saiu da minha cabeça. Na ocasião, Martin abriu com o edit mágico faixa que eu considero a pontinha da música clássica dentro da música de pista: November Morning.
Eu escutei essa música incontáveis vezes nos meses e anos seguintes, mergulhei na discografia de Stimming, descobri outros trabalhos que hoje gosto ainda mais, pude perceber e testemunhar a sensibilidade e grandeza que a música eletrônica pode alcançar e por fim, tive a sorte de entrevistá-lo em duas ocasiões, uma para House Mag e outra no Alataj. Foi incrível e em uma delas eu perguntei justamente sobre aquele momento de abertura daquele set em Julho de 14. Encerro esse meu primeiro texto com sua resposta:
Um belo momento! A track foi feita durante aquele período de abuso de álcool, que eu falei para você anteriormente. Eu também estava em um relacionamento difícil e de alguma forma toda minha vida não estava de uma maneira saudável e próspera. Naquela época, eu ainda não estava no ponto de poder enfrentar esse fato. Era preciso mais um par de meses.
Absolutamente incrível o poder que artistas possuem de transformar momentos ruins em obras mágicas.
Comments (2)
Eu amo essa música do Stimming!
É incrível como a música eletrônica tem o irrefutável poder de mudar a vida das pessoas. E na grande maioria, sempre para melhor.